Quadrinhos de não ficção II: Biografias

Por Diego Hungria

 

O investimento na edição de biografias não é uma novidade no mercado editorial. Basta uma rápida visita a qualquer livraria para ver dezenas de lançamentos do gênero; na lista de mais vendidos também se encontram com frequência livros que contam a vida de algum popstar, político ou artista. O interesse das pessoas por obras que investigam a realidade é gigantesco, como se observa pela quantidade de filmes com os dizeres “baseado em fatos reais”.

 

Evidentemente, uma linguagem com potencial narrativo como a dos quadrinhos não ficaria fora dessa tendência, e chega ao mercado um número cada vez maior de biografias em quadrinhos. A vantagem de narrar uma vida através dos quadrinhos é clara: a possibilidade de se combinar belas imagens com uma narrativa bem construída.

 

Johnny Cash – Uma BiografiaPara quem tem interesse em se aventurar nesta área, não faltam opções. Se você gosta de música, vai apreciar o trabalho de Reinhard Kleist, artista alemão, autor de Johnny Cash – Uma Biografia e organizador, ao lado de Titus Ackermann, de Elvis. No primeiro, Kleist narra a trajetória de Johnny Cash, usando como momento decisivo na trama o seu famoso concerto na prisão Folsom, escolha igual à feita para o filme lançado no mesmo ano da HQ, Johnny and June. Mas quem espera encontrar no trabalho de Kleist semelhanças com o filme irá se decepcionar. Enquanto o filme explora a história de amor entre Johnny Cash e June Carter, mostrando as idas e vindas dos dois ao longo dos anos, a HQ explora essencialmente Johnny Cash, sua história conturbada e sua obra. Sem a romantização de Hollywood, mostra desde um Cash genial em seu auge até um artista consumido pelas drogas, decadente artisticamente, que atinge a redenção nos últimos anos de sua vida. A HQ também se destaca pelas passagens que representam versões em quadrinhos de músicas de Cash, como Big River e Cocaine Blues. Já em Elvis, Kleist e Titus Ackermann escreveram um roteiro para a vida do músico, dividiram este em dez pequenas histórias e convidaram diferentes quadrinistas alemães para produzi-las.

 

CastroMas Kleist não investe apenas em biografias de músicos. Recentemente, também foi autor de Castro, biografia em quadrinhos de Fidel Castro. Nesta, um jornalista vai até Cuba no ano de 1958 pesquisar sobre um líder rebelde (Fidel Castro) e, a partir disso, se vê envolvido na revolução. Nos trabalhos de Kleist é possível perceber a importância que ele dá para representar personagens parecidos com as pessoas reais e, no caso de Castro, o autor passou um mês em Cuba para conhecer melhor os cenários que iria representar.

 

Che – Os últimos dias de um heróiOutro personagem cuja vida tem muito destaque no mundo dos quadrinhos é Che Guevara. Para este, já foram produzidas inúmeras HQs, sendo Che – Os Últimos dias de um Herói um clássico. Produzida pelo roteirista argentino Hector Oesterheld e o desenhista uruguaio Alberto Breccia e seu filho Enrique, foi lançada apenas três meses após a morte de Che, chegando a ser proibida em 1973. Oesterheld e sua família acabaram desaparecendo em 1977, após serem sequestrados pelo governo militar, mas em 1979 o jornalista italiano Alberto Ongaro ouviu de um militar argentino a seguinte frase: “Nos livramos dele por ter escrito a mais bela história já contada sobre Che Guevara”. Como se não bastasse o talento de Oesterheld (criador da obra-prima dos quadrinhos argentinos, El Eternauta), a HQ é, portanto, parte de um período histórico de conturbação política que assolou a Argentina e toda a América do Sul, imersa em ditaduras. Sobre Che Guevara, também foi produzida Che – Uma Biografia, de autoria do coreano Kim Yong-Hwe, mostrando a vida de Che, de sua infância na Argentina até sua morte, na Bolívia.

 

Clube da EsquinaOutros quadrinhos podem ser citados, como o recém-lançado Kardec, obra que trata da vida de Allan Kardec, considerado o criador do espiritismo, composto pelos textos de Carlos Ferreira e dos desenhos de Rodrigo Rosa. Outro exemplo nacional é Histórias do Clube da Esquina, de Laudo Ferreira e Omar Viñole, que não narra especificamente a vida de um personagem, mas do grupo de músicos mineiros participantes dos famosos discos de 1972 e 1978 (Clube da Esquina e Clube da Esquina 2), intercalando episódios da vida e obra desses músicos sem seguir uma ordem temporal, mas procurando mostrar, como o próprio título da obra sugere, histórias.

 

Não faltam opções para se ler uma boa biografia em quadrinhos. Tire um tempo, escolha a sua e, provavelmente, não se arrependerá.






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